O que antes parecia apenas um sonho distante agora se tornou real: o “retorno” do carro popular está cada vez mais próximo. Com o pacote de medidas anunciados pelo Governo Federal, a prioridade é reduzir o preço dos veículos 0km para que mais pessoas consigam adentrar nesse mercado que vem sofrendo nos últimos tempos. No texto de hoje, falaremos um pouco sobre como isso impacta o mercado como um todo, seja para consumidores finais, revendas, trabalhadores etc. Sem mais delongas, vamos ao texto.

ENTENDENDO O CASO

Como já mencionamos algumas vezes por aqui, não é de hoje que os veículos 0km vêm sofrendo cada vez mais em relação ao seu principal competidor, nesse caso, os veículos seminovos. O número de emplacamentos vem diminuindo ano após ano, e o principal motivo continua sendo o mesmo: preços cada vez mais elevados e que não condizem com a realidade da maioria dos brasileiros. Apenas para fins de comparação, uma pessoa que recebe um salário mínimo levaria 50 meses para pagar o veículo mais barato do mercado, nesse caso, o Renault Kwid.

Diversos fatores colaboram para os preços elevados dos 0km, principalmente os impostos que são aplicados neste tipo de produto, algumas vezes chegando até a 45% do seu valor final. Tarifas como ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) são apenas alguns dos fatores que acabam encarecendo os veículos que saem da fábrica para o consumidor final. Além disso, ainda existem questões como o custo para transportar os veículos, uma vez que a infraestrutura das estradas brasileiras deixa muito a desejar, questões envolvendo a disputa por peças já que, ainda que o mercado tenha atravessado a pandemia, as montadoras continuem a enfrentar diversos problemas relacionados a distribuição de semicondutores.

Quando somamos esses e mais fatores mencionados acima, um veículo que facilmente poderia ser vendido por um preço menor acaba se tornando um artigo de luxo para grande parte da população.

MAS AFINAL, OS VEÍCULOS PRECISAM SER TÃO CAROS?

Diferente dos carros de antigamente, que eram extremamente básicos, é quase impensável que um veículo não tenha alguns dos itens de série que acabaram se tornando tão comuns para nós. Freios ABS, ar-condicionado, sistemas de segurança que auxiliam na condução, além da própria estrutura que compõem a base dos veículos, são apenas alguns dos fatores que conquistaram cada vez mais espaço nos automóveis de hoje. Montadoras do mundo todo vêm atualizando seus carros para que, ainda que em suas versões de entrada, possam oferecer conforto e segurança para os condutores. Um grande exemplo disso é a transição abrupta que ocorreu na virada de 2022 para 2023, onde presenciamos o encerramento do Volkswagen Gol para que o Polo Track assumisse o seu lugar. Para continuar tão em conta, era necessário que alguns itens não estivessem presentes no queridinho do Brasil, chegando a um ponto em que a empresa não teve escolha a não ser extinguir seu ás.

Novamente, isto não significa necessariamente que o preço pelo qual os veículos são vendidos nas concessionárias é “justo”, mas devemos levar em conta o tempo em que vivemos, onde conforto e segurança não podem mais andar separados. Carros mais modernos são necessários para um público mais moderno.

A ESPERANÇA PARA O ZERO KM

A medida divulgada no dia 06 de Junho de 2023 prevê descontos de até R$ 8 mil reais para veículos que custem até R$ 120 mil. Diversos critérios foram aplicados para que os preços sejam reduzidos, dentre eles:

• Preço base - carros mais baratos terão descontos maiores
• Emissão de resíduos – quanto menor o impacto ao meio ambiente, mais descontos;
• Cadeia de produção - quanto mais peças do veículos forem produzidas aqui, maior o desconto aplicado.

Uma das medidas anunciadas é a diminuição nos impostos para os veículos, nesse caso, haverá uma tentativa de transformar a venda para consumidor final em uma espécie de “venda para CNPJ”, ou seja, menos impostos serão aplicados e o preço dos veículos reduzirá de maneira drástica. O pacote divulgado possui prazo de validade, neste caso, até que atinja os R$ 1,5 bilhões que foram separados para os custos do programa. Vale ressaltar, apenas a título de curiosidade, que este dinheiro não impactará de maneira alguma outras áreas econômicas do país, uma vez que ele está previsto para retornar para os cofres através de outras medidas (também relacionadas ao setor automotivo).

SEMINOVOS ESTÃO AMEAÇADOS?

De maneira prática, não é o momento para que o setor de seminovos entre em crise, uma vez que as montadoras ainda estão tabelando seus preços e testando o mercado. Até que a situação se estabilize, estaremos vivendo uma grande briga de “onde estão os melhores 0KM com os menores preços?”. Porém, num futuro extremamente breve, o preço dos seminovos também reduzirá, uma vez que o efeito cascata chegará até esta categoria, afinal, se um Renalt Kwid 2020 estiver sendo vendido por um preço similar ao do mesmo veículo 0KM, o consumidor certamente migrará para o segmento que oferece veículos mais novos.

Como já falamos em um de nossos textos, a grande vantagem dos veículos seminovos é justamente o seu preço e a confiabilidade que eles possuem que, em muitos casos, acaba sendo mais atrativo do que as condições oferecidas pelas montadoras. Mas a história é diferente quando ambos estão com um preço muito similar.

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